O mundo está longe de ser óbvio.
Mesmo sem suspeitar de estranhas conspirações de qualquer matiz ideológica, os
nexos e causações cotidianas e históricas exigem um esforço bastante grande do
observador e ainda mais do participante histórico. Fenômeno fácil de se
observar na observação de perspectiva histórica propriamente, ainda que sejamos
sempre tentados a analisar a história a luz dos conhecimentos inexistentes ou
desorganizados à época analisada para concluirmos que o universo é estúpido e
nós, gênios. Essa não é uma falha dos professores de História, ou de método...
em verdade é mais uma vaidade nossa de espezinhar os idos que não mais podem se
defender, brincando o presente de profetas do passado.
Obviedades não são trivialidades,
ainda que sejam em si, no linguajar tão comum às ciências exatas, triviais.
(Note o leitor que nada que é trivial em Física ou Matemática é uma
trivialidade, mas seu exato oposto, sendo a pedra angular de conhecimentos que
erguem uma catedral sobre si). O deslinde desses nossos hábitos tão caros de
vaidade exige tenacidade e, mais do que tudo, perspectiva.
Minha situação é privilegiada
porque estou, junto com o ano civil, entre uma idade e outra nessa virada de
ano; porque estou nessa mudança, com a mirada entre um lado e outro do açude de
bodocongó algo atarefado em tornar habitável aquele turbilhão de mudança que
conheço tão bem demais; porque estou de um lado e de outro de muitas coisas e
de outros lados também porque coisas não são pontos, são objetos do espaço que
tem, portanto, mais do que dois lados!
Todos os meus amigos sabem que
sou tão direitista na essência que o Bolsonaro parece comunista. Há seis anos
havia manifestado minha profunda preocupação como a Petrobrás, há dois anos,
ainda antes das super notícias, não havia dúvida de que a cornucópia
espongífera começaria a ruir e junto com ela os tais fundamentos da economia.
Não sou profeta e não torço pelo pior, mas entendo de lógica elementar e conheço
fatos de diversas fontes. Às vezes é melhor informado aquele que, como eu, não
acompanha notícias sistematicamente, mas episodicamente: a chave aqui está em
ter elementos subjacentes para o estabelecimento de nexos por diferentes
perspectivas.
Com certeza não era o único a
perceber esse fato. Talvez mais pessoas soubessem verdadeiramente se o Reinaldo
Azevedo não estivesse falando a mesma coisa e colaborando para blindar o
conhecimento com o preconceito. Xi... preconceitos... de certa forma não acho
que os fatos acima sejam uma equação cuja resposta seja “Não vote em Dilma”, ou
seu oposto. O Voto envolve um monte de fatores que são levados em conta pela
população no momento em que os indivíduos agem o mais semelhantemente com as
pessoas de livros de economia.
Não conheço nenhum eleitor de
Dilma, e conheço muitos, que teriam mudado o voto se ela tivesse informado
previamente as medidas econômicas do início do ano, as medidas de “combate à
inflação”. O mesmo pode ser dito sobre o relatório do terceiro trimestre da
Petrobrás, dos interrogatórios do caso Petrolão e aí por diante. Daí me parece
pueril as pessoal ficarem denunciando aqui e ali sobre essa questão.
Sem dúvida é verdade que as
medidas econômicas ortodoxas tomadas por um governo petista tendem a ser
observadas com maior suspeição e como alunos que querem mostrar que não estão
colando na prova acabam por levar-se mais a sério.
Minha opinião aqui consignada: as
condições macroeconômicas do país estão pra lá de lamentáveis, as medidas
tomadas agora podem não ter o efeito desejado. Certamente haverá um processo
recessivo ainda nesse ano de 2015, mas não é totalmente certo que a inflação vá
ser controlada, o endividamento da classe média vai subir juntamente com a taxa
de inadimplência e uma ligeira alta na taxa de desemprego. O que poderia nos
salvar, como vem fazendo há uma década é a agroindústria. Katia Abreu tem
influência e muitas caras mas ela não faz chover e o clima de fato não nos está
ajudando em nada. Com o fracasso das medidas em 2015 o Brasil vai se voltar
para a solução usual e aumentar a máquina pública. Sugiro que os concurseiros
comecem a se preparar logo.
O pacote de 2015 deveria se
chamar “pacote Casablanca” em homenagem ao chefe de polícia do famoso cassino
de hollywood que se notabilizou por uma frase que acabou dando título a outro
excelente filme que disparou a carreira de Kevin Spacey, estrelando como Kaiser
soze (e estragando o filme para quem não assistiu the usual suspects)
Enquanto isso, do outro lado do
mundo, vemos nações soberanas negociando com terroristas sob o silencia do que
se chama “comunidade internacional”. É claro que é muito duro ver imagens de
cidadãos sendo degolados na televisão, mas o Estado é mais do que os seus
indivíduos. Na década de 80 era relativamente comum o sequestro por entidades
do crime organizado, sequestros famosos de vários dias, quantias milionárias.
Não era só coisa desses tristes trópicos, acontecia amiúde na Itália, Espanha,
Estados Unidos e Alemanha. Alguém se lembra da última vez em que isso
aconteceu?
Tem uma geração que nem deve
saber o que é isso, mas pode recorrer a locadora de vídeos mais próximas (rs) e
procurar filmes de Mel Gibson (esses, vejam só, já são do final dessa época).
Esses eventos desapareceram por medidas duríssimas tomadas pelos países, aos
poucos e depois em conjunto, que bloqueiam os bens dos cidadãos para que não
seja possível o pagamento de nenhum resgate, justamente com regras claras a
respeito de lavagem internacional de dinheiro, depois de intensas e demoradas
negociações com o governo suíço. Mas agora o Japão e o Qatar podem financiar
diretamente o estado islâmico, grupo de terroristas com acidental bom humor no
nome. Finalmente a tão propalada tese do “terrorismo de estado” encontra o seu
objeto.
Antes dos antigos arrisquei-me
com os contemporâneos, e apenas brinquei com a perspectiva.
Assisti dois filmes intensos com
minha filha sobre a segunda guerra mundial, particularmente sobre o holocausto
(Irene Sandler e um mais antigo sobre um falsário). Nas férias anteriores tínhamos
assistido o menino do pijama listrado. Ela comentou que todo mundo fala da
segunda guerra mundial e ninguém fala da primeira guerra. O que é muito
verdade. O centenário do episódio de Sarajevo foi nesse ano que terminou e não
lembro de ter visto muitas coisas a respeito, a não ser uma séria bem produzida
chamada 14 dias, se não me engano, com a visão da chancelaria britânica sobre o
desenrolar dos eventos até o início da guerra.
O mundo que iniciou a Guerra com
um arquiduque polêmico morto era um mundo diferente do que aquele que emergiu
com a paz de Versalhes e sem monarquias absolutistas. Um mundo tão longínquo que
deveria marcar o fim (jocosamente) da idade contemporânea para que pudéssemos finalmente
estabelecer uma nomenclatura menos ridícula para as idades históricas.
Nesse momento também tinha uma
preocupação em mente, estava (e ainda estou) fazendo reflexões sobre o
ensino-aprendizagem baseado em um estrutura fractal analógica, a fractal de
Koch. Para isso queria desenvolver o texto apresentando ele mesmo estruturado
segundo a imagem dessa figura, discutindo o pensamento eminentemente como
linguagem, apoiado em três movimentos distintos – que compõe o fractal –
tentando demonstrar a possibilidade de uma intencionalidade no Ensino que deixe
caminho suficiente para a aprendizagem via uma escolha de currículo de uma
sorte diversa do que entendemos atualmente. Assim é uma tarefa do texto definir
o que seria currículo e o método de linguagem comunicação que pode ser
aproximado pelo conceito. Não há uma exatidão no que se quer ensinar, mas a
possibilidade de uma aproximação por um número finito de passos. Do ponto de
vista filosófico a hipótese do contínuo e a linguagem estariam imbricados em
uma possível filosofia da aprendizagem.
Material de trabalho, longo, que
me levou a discutir en passant o movimento browniano e a estatística de Boltzman.
Lá estava novamente Viena no centro dos meus pensamentos, lembrei sua
arquitetura, palácios gigantes que me lembravam uma era pós napoleônica de
maneira intuitiva e uma dinastia de mil anos, os Hapsburgo.
Não havia outro caminho e já estava
com um livro recém publicado sobre a vida do casal do Arquiduque Francisco
Fernando e da Condessa que jamais seria rainha, jamais seria considerada de
família real ou imperial e que renunciara também a seus filhos os benefícios da
realeza. Nota-se que é uma biografia muito oficial do casal, com o beneplácito
da única neta viva que ainda luta por uma herança na República Tcheca, mesmo
assim é uma descrição bastante boa dos acontecimentos que acabaram por dar
origem a um novo mundo, de maneira tola como foi. Uma guerra de tropeços que
começou com uma rusga familiar, uma falha de segurança com uma conspiração de
meia pataca, seguida de uma coleção de tropeços diplomáticos, culminando com a
queda de três impérios! No ventre desse turbilhão ainda estava a II Guerra.
Viena é o que é e uma visita
casual a Recife me faz encontrar o livro de Gombrich de História da Arte.
Devorei, pela segunda vez em uma semana e até voltei a desenhar a lápis alguns
treinos com técnicas de perspectivas.
Pode parecer engraçado, mas esse
é, finalmente, o objetivo desse texto. Após uma boa leitura de história da
arte, tudo vivo em sua mente, a gente acaba se pegando observando as coisas de
uma nova maneira. A disposição dos móveis na casa, as cores da cidade, as
imagens de jornalistas na televisão e você observa o enquadramento e a
arquitetura do que está atrás, realmente um mundo novo aparece onde nada mudou.
Um prazer delicioso.
E a discussão anterior sobre a
fractalidade do pensamento ganha um adicional, o signo visual, a estética
agregada me joga num mundo que acaba por deixar tão mais clara a centralidade
da linguagem nesse processo, que tocaria não tão fundo.
Campina Grande tem poucos bons
negócios. Todos os bons negócios que abrem tem em mim um contribuinte e assim é
com a livraria Nobel. Uma livraria bem fraca ao lado do La Suissa, mas não
podemos deixa-la esmorecer. Nessa boa vontade toda encontro lá mais coisas para
aprender, Saussure e Chomski. Me oponho a ler o pensamento panfletário de
Chomski, mas em linguística os dois devem ser encarados seriamente. É muito
claro porque Saussure facilitou tanto a vinda de Derrida, ruim e confuso com
algumas esparsas boas idéias. Mas é uma leitura de segunda mão reconstruída por
discípulos heterogêneos em um contexto limitado, parece que tinha algo a dizer
mas fico com a impressão de que seus alunos eram péssimos, caso contrário
poderia ter elucidado com mais clareza. Acabou servindo ao desserviço da pior
versão de pós-modernidade.
Chomski ainda não teve tempo de
vir para minhas mãos, mas vai ser contemplado juntamente com pensamentos de
neurociência com evidências recentes para colocá-lo em perspectiva.
Moral da história: nexos podem ser
encontrados de diversas formas, causais, acidentais ou estéticos e a construção
humana deve ter em conta os diferentes lugares de onde conseguimos falar e
ouvir, testemunhas de uma história que fazemos em nossas mentes com nossas
histórias sentimentais de lugares que as vezes são tão diferentes da impressão
que temos deles, seja o liame que for, a honestidade das referências e a
observância à clareza do discurso podem preservar o belo ou até mesmo
recriá-lo.
Duino é um caso especial, Duino
sempre está em algum lugar da minha vida.
Outro dia quem sabe.
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