Pronunciamento por ocasião da Colação de Grau do Curso de Medicina – CFP
28 de Agosto de 2015
Canto
de onipotência (Augusto dos Anjos)
Cloto,
Átropos, Tifon, Laquesis, Siva...
E acima deles, como um astro, a arder,
Na hiperculminação definitiva
O meu supremo e extraordinário Ser!
Em minha sobre-humana retentiva
Brilhavam, como a luz do amanhecer,
A perfeição virtual tornada viva
E o embrião do que podia acontecer!
Por antecipação divinatória,
Eu, projetado muito além da História,
Sentia dos fenômenos o fim.. .
A coisa em si movia-se aos meus brados
E os acontecimentos subjugados
Olhavam como escravos para mim!
E acima deles, como um astro, a arder,
Na hiperculminação definitiva
O meu supremo e extraordinário Ser!
Em minha sobre-humana retentiva
Brilhavam, como a luz do amanhecer,
A perfeição virtual tornada viva
E o embrião do que podia acontecer!
Por antecipação divinatória,
Eu, projetado muito além da História,
Sentia dos fenômenos o fim.. .
A coisa em si movia-se aos meus brados
E os acontecimentos subjugados
Olhavam como escravos para mim!
Essa
é a descrição da onipotência do poeta Augusto dos Anjos, que
certamente empresta palavras para o sentimento daqueles que hoje
coroam sua carreira acadêmica com a láurea de bacharéis.
O
silêncio solene desse recinto não reflete suas atividades
cerebrais, o silêncio ausente de silêncio de
nossos corredores não faz jus a vossos méritos. Vocês não são
os homens ocos, estão estufados de conhecimentos e prenhes de
vontade, suas conquistas não devem terminar com um murmúrio, mas
com uma explosão, para inverter a ordem do melancólico T. S.
Eliott.
Caminhamos
juntos nessa vossa, nossa aventura. Na jornada para o advento que o
hoje representa para todos nós, juntos lutamos e trabalhamos para a
garantia do sucesso da implantação de um curso de Medicina no
coração do sertão Paraibano. Os servidores técnico-administrativos
que os atenderam logo na matrícula, os coordenadores de curso que se
empenharam em promover a organização imprescindível para um
curso de qualidade, seus professores, funcionários dos mais diversos
serviços de saúde, e a administração dessa Universidade sempre
estiveram atentos para que esse momento pudesse chegar.
Não
existe definição para o que é uma Universidade que não seja
teleológica e maior não pode ser seu motto do que esse momento. A
Universidade não é máquina, é um organismo de transformar
pessoas e se transformar.
Nessa
ação contínua, nós que aqui ficamos na Universidade somos o
Virgílio de Dante, guias que nos dedicamos a fazer com que pudessem
atravessar os inferos e o purgatório. Contudo não é por falta
de fé que não podemos seguir aos céus, é pelo seu
excesso, pela necessidade que sentimos em continuar atuando para
que a sociedade brasileira possa se constituir de cidadãos
conscientes e bem formados, aptos a desempenhar suas
profissões e atentos para as necessidades sociais do país.
Toda
a ação da Universidade é urgente, a medida em que o
conhecimento amadurecido não pode ser retardado, refreado, deve se
expressar em sua máxima violência. Sobretudo em um país como o
nosso, carente de profissionais de nível superior e mais carente
ainda de educação básica.
A
coerção da ação do conhecer, do pensamento, causa prejuízo
irreparável à sociedade, ao impedir a mola propulsora do
engenho, da arte e da ciência de se exprimir suficientemente para
que a sociedade de os saltos qualitativos necessários para as
demandas de um mundo em constante transformação. Sobretudo em um
país que almeja atingir a Educação Superior de Massa na próxima
década, dobrando a quantidade efetiva de matrículas no Ensino
Superior.
Nesse
grande experimento que realizamos no laboratório da Universidade,
devemos agir com o delicado cuidado daqueles que podem afetar vidas
humanas, uma vez que a emergência de uma consciência cidadã
nos estudantes e sua formação com a qualidade preconizada pelas
leis brasileiras e pelos nossos padrões de qualidade são de
inquestionável valor social.
Sinto-me
honrado e orgulhoso de estar aqui nessa cerimônia, coroando suas
trajetórias e marcando a etapa final para o recebimento do seu
diploma. Um papel com quatro assinaturas de pessoas que se
vão, mas com o nome de uma instituição que permanece.
Um
produto bem feito, fino e acabado pode ser reconhecido pelo seu
valor, mas será bastante mais difícil que isso aconteça sem
que tenha uma certificação do processo envolvido em sua
preparação. De certa forma é isso o seu diploma, não apenas a
certificação de que você cumpriu as disciplinas que sabe que
cumpriu e estão em seu histórico escolar, mas um certificado de que
todas as formalidades foram cumpridas no âmbito do Sistema Nacional
de Avaliação que auferem ao conjunto de suas disciplinas um
contexto maior, a finalização de um curso de Medicina segundo as
normas vigentes no País, na tradição que evoluiu desde a primeira
escola de Medicina do País em 1808. No futuro profissional não mais
interessa a sua nota de bioquímica, interessa que você foi um
membro de nossa comunidade acadêmica, da UFCG. O que me serve
de escusa para que compreendam alguns périplos necessários para que
tenham chegado até aqui hoje.
E
nessa cerimônia, portanto, honradamente, a Universidade Federal
de Campina Grande apresenta à sociedade, aqui representada pelos
seus familiares, um jovem grupo de profissionais médicos,
acreditando que esse grupo poderá contribuir para a construção de
uma sociedade brasileira cada dia mais justa, atuando de forma
ética e cidadã na sua profissão, garantindo ao nosso país
e a Paraíba uma maior humanização e qualidade dos serviços
médicos.
Retomando
Augusto dos Anjos, que vocês possam erguer os gládios e brandis
as hastes para quebrar a imagem de seus próprios sonhos e
torná-los realidades.
Parabéns
e Boa noite.
Luciano Barosi
Pró-Reitor de Ensino - UFCG
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