Unreal City, |
Under the brown fog of a winter dawn, |
A crowd flowed over London Bridge, so many, |
I had not thought death had undone so many. |
Sighs, short and infrequent, were exhaled, |
Não
pergunto quem construiu Tebas, a de sete portas. Pergunto para o que
serve uma gaivota, ou os lilases que germinam da terra morta?
Para
que servem alunos e professores?
São
perguntas retóricas que pretendo responder a seguir e discutir as
suas consequências.
A
evolução das espécies em acordo com a seleção natural dos
indivíduos mais aptos a reprodução, ou sua versão mais recente,
dos genes mais aptos, é uma das mais robustas teorias científicas
que o homem já criou e corroborou. Essa visão de mundo teve
profundos impactos na ciência e na sociedade desde a sua concepção,
não obstante a existência, ainda hoje, de setores mistificadores
recalcitrantes.
Nessa
ótica, a gaivota, os lilases e todos os organismos vivos não servem
para absolutamente nada, não há implicações teleológicas na
evolução das espécies, nenhuma finalidade específica que guie ou
coordene o processo evolutivo senão o equilíbrio mutável dos
reservatórios gênicos. Não custa lembrar que o hábito de
emprestar a história ou a sociedade alguma finalidade abstrata,
influência darwiniana comum a partir do século XIX, da qual ainda
não estamos livres, teve como consequência um grande número de
revoluções e um grande banho de sangue, sem que se tenha notado
algum benefício concreto no que diz respeito às condições gerais
da população.
O
que nos serve para não nos deixar entorpecer com cantos de um estado
da natureza de harmonia, mantendo os olhos e mentes abertos.
Baudelaire quem sabe nos empresta alguma boutade para esse estado
natural
Assim
como um voraz devasso beija e suga
O seio murcho que lhe oferta uma vadia,
Furtamos ao acaso uma carícia esguia
Para espremê-la qual laranja que se enruga.
O seio murcho que lhe oferta uma vadia,
Furtamos ao acaso uma carícia esguia
Para espremê-la qual laranja que se enruga.
Em
meio às hienas, às serpentes, aos chacais,
Aos símios, escorpiões, abutres e panteras,
Aos monstros ululantes e às viscosas feras,
No lodaçal de nossos vícios ancestrais.
Aos símios, escorpiões, abutres e panteras,
Aos monstros ululantes e às viscosas feras,
No lodaçal de nossos vícios ancestrais.
Quiçá
acredite que seja o conhecimento de alguma serventia. Mas o
conhecimento como que não tem suporte material, é essência pura
que reside em outra esfera que não toca no que vivemos.
Conhecimento
se aprende e apreende, se ensina e se acumula, mas não serve.
Servindo a alguém se degenera, não presta e não se presta, pois
que o conhecimento é ideia pura, ideia é a liberdade suprema.
Conhecimento
não é contingente.
Resta
ainda uma pergunta que fiz na introdução, acerca do aluno ou do
professor.
— Hypocrite lecteur, — mon
semblable, — mon frère!
Talvez
fosse melhor que também não servissem, mas servem. A educação
escolar como um todo serve para a preservação de uma estrutura de
sociedade, um habitus, entrementes somos agentes políticos
perpetradores de um sistema de justiça ou de injustiça social,
sobrevalorizados no que diz respeito ao potencial verdadeiro de
formação e subvalorizados naquilo que efetivamente conseguimos e
podemos alcançar.
O
que fazemos aqui, então?
Cerrei
a porta do estoicismo logo no início do discurso, cuidadosamente
evito o cinismo, de um de outro, contudo, devo tomar a discussão
acerca das paixões.
A
episteme vem ao mundo por meio do logos, da palavra falada, a mesma
palavra usada na versão grega da bíblia para se referir a Jesus
Cristo no Evangelho de São João.
Na
expressão da palavra esgueira-se a volição, dando forma ao
conhecimento segundo a expressão de suas paixões, como palavra
falada ou pensada que se redescobre no fazer da técnica em sua
origem etimológica, do empreendimento técnico que engloba o
empreendimento artístico e poético.
Conhecimento
aplicado no mundo real, moldando por suas paixões, expressando suas
vontades, esse é o átomo universitário, o elemento indivisível
por excelência que é aqui abraçado, cuidado, aceito. Não é
possível que existam sem a realidade a sua volta, sem o conjunto de
conhecimentos que possuem, e que se alarga, e tampouco sem suas
paixões que permitem a consecução do que quiserem fazer.
Queremos
a aplicação dos seus conhecimentos segundo os melhores princípios
da técnica, como é tão comum dizer nos juramentos de colações de
grau, mas queremos mover suas paixões. É a vontade se manifestando
que liga cada indivíduo ao resto da sociedade.
Uma
sociedade ilustrada tem que se fundamentar em princípios sólidos.
É
necessário prezar mais o direito ao dissenso do que a vontade de
estar certo, ou seja, é necessária a tolerância, ainda que sem
perder de vista o amor a verdade e ao conhecimento.
É
necessário reconhecer os mecanismos democráticos que permitem a
participação dos povos em suas constituições, sejam elas
universitárias ou nacionais. Reconhecer os mecanismos que defendem
as nações da ditadura, principalmente da mais insidiosa das
ditaduras, a ditadura da maioria. Precisamos todos atuar,
responsavelmente, nos processos decisórios, seguindo os ritos
formais que tanto nos protegem das tiranias e dos falsos profetas.
É
necessário evitar cair na falácia da igualdade de oportunidade e
pensar uma atuação voltada para uma continuamente construída
justiça social, lastreada no conceito de justiça como equidade, de
forma que as injustiças veladas de uma sociedade que as perpetra
possam ser desmascaradas.
É
necessário saber evitar as respostas fáceis, cerrar os ouvidos para
o sibilar dos maledicentes e descriminar o verdadeiro discurso da
fala que tem por fito toldar a visão e manipular.
E
desvelamos mais uma característica importante desse nosso átomo
cultural constituído de um indivíduo solitário na sociedade, com
conhecimento, vontade – e paixões, e ética. O amor a verdade em
uma vida em sociedade só pode resultar no amor pela liberdade, pela
democracia e pela justiça.
Para
todos os petianos aqui reunidos, esse discurso representa o seu dia a
dia e é por isso que um programa como esse mantem a sua importância
e move tantas emoções, ou seja, porque o PET não serve a nada,
senão a vocês petianos, senão à construção de uma sociedade
cada vez melhor.
A
UFCG é um sonho que se sonha junto e é um orgulho tê-los como
parceiros nesse meu sonho.
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