quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Pronunciamento por ocasião das colações de Grau Cuité e Campina Grande - 2015.1


Confesso que não gosto muito de repetir o mesmo discurso em mais de uma colação de grau, procurando mostrar ao público presente que houve cuidado e atenção com os presentes para dirigir um pensamento que lhes é particular.

Contudo devemos reconhecer que, às vezes, a mensagem que se quer dar é de fato uma mensagem pública idêntica à mais de um público. Sem dúvida esse foi o caso, é uma mensagem para todos os campi exatamente porque é uma mensagem de unidade. Para registro, um discurso desse tamanho é um discurso de 10 min.

Muito frequentemente, nessas cerimônias, não fica claro qual é o público para o qual falamos. Temos aqui, em júbilo, os alunos concluintes e grandes protagonistas no momento, Mas a história deles não pode ser isolada da história da comunidade universitária que permitiu que eles aqui estivessem. Finalmente, a sociedade brasileira está presente, representada pelos amigos e familiares, sociedade que recebe novos profissionais para o seu contínuo progresso. Encerrando essa cerimônia eu tenho por dever de ofício me dirigir a esses três públicos.


A Universidade é um esforço coletivo de alunos, técnico-administrativos e professores para a produção e divulgação do conhecimento, seja na modalidade de pesquisa seja de extensão. Mas o centro mesmo de nossas ações é a formação de profissionais, não formamos mão-de-obra qualificada, formamos cidadãos profissionais aptos a apreender o mundo em que vivemos, atuar no exercício de suas profissões com a melhor técnica a serviço da sociedade e agir em um mundo desafiadoramente complexo de forma a permitir a contínua construção de uma sociedade mais justa, mais equalitária, mais republicana, mais democrática.

Contudo, não se enganem em acreditar que esse papel da Universidade é feito de maneira puramente endógena. Não acolhemos alunos da barbárie do lado de fora para proteger em nossas altas torres e devolver paladinos! A missão da Universidade se faz na sociedade e é como instituição social, sujeita a todas as pressões da sociedade moderna e ou sua inestimável ajuda que construímos um conceito de curso e de Universidade, que abrigamos alunos, professores e técnicos imperfeitos em sua existência, para a construção de um grande processo de melhoria da sociedade. Sentimos e absorvemos as mudanças da sociedade a medida em que procuramos fazer a nossa pequena parte nessa  mudança.

Nossa missão exige solidariedade, mas não complacência. Exige o reconhecimento de uma contínua crise, uma crise de conhecimento e de modelo acadêmico para a qual tomo de empréstimo, como imagem, o nascimento de Atena, deusa de justiça e sabedoria, mas também uma Deusa guerreira que nasce armada da cabeça de seu pai, Zeus, após uma imensa enxaqueca que o faz abrir a própria cabeça a marteladas.

Concluímos que a Universidade é uma instituição democrática que presta um serviço público, a construção e execução de um currículo profissional. Não estamos imunes às vicissitudes e iniquidades que gracejam pela sociedade, tampouco somos impermeáveis a suas virtudes. Emprestando as palavras de Terêncio: “Sou humano: nada do que é humano me é estranho”.

A democracia e o Estado de Direito partem, no aspecto filosófico, exatamente desse ponto. Na tentativa de construir-se uma sociedade igualitária, de caráter previsível e que aja de maneira impessoal, as instâncias administrativas são separadas em elementos de balanço de poder decisório e sistemas de controle.

A concessão de um Diploma é um ato simbólico de imenso valor, que permite ao seu portador exercer um direito conforme aquele que a sociedade espera dele, portanto, há que se verificar várias condições que garantam que o currículo proposto pela Universidade foi de fato atingido. O diploma não é o seu certificado de defesa do TCC, ou um certificado de cumprimento de determinadas horas na Universidade. O Estado brasileiro outorga a UFCG o poder de conceder um tipo de licença, e a UFCG tem o dever de fazê-lo com suficiente zelo para verificar se estão presentes as necessárias condições de cidadania – ou seja, os documentos pessoais, o título de eleitor e o certificado militar, se todos os atos realizados foram atos legais pois não são legítimos quaisquer efeitos de atos ilegais, que podem ser anulados, a exemplo do cumprimento da lei de estágio, se houve probidade na implantação das notas…

Não resta dúvida nenhuma que para muitos de vocês essa tarefa, que recai em sua maior parte a Pró-Reitoria de Ensino, seja um transtorno. Mas esse é nosso papel na sociedade, o papel da UFCG no sistema de avaliação da Educação Superior Brasileira, é o que permite um sistema de avaliação bastante consistente nos últimos dez anos – um dos maiores do mundo, a propósito – e é esse sistema de avaliação que permite à sociedade avaliar e principalmente fiscalizar o nosso trabalho. A partir do momento em que vocês possuem seus diplomas, as suas notas individuais, sua história acadêmica, passam a ter menos importância, vocês passam a ostentar um certificado com o nome da UFCG que estará ligada a vocês pelo resto de suas vidas e, sinceramente, espero que esteja também emocionalmente ligada ao coração de vocês. São vocês também a garantir a percepção da qualidade de nosso ensino, pelo qual passam agora a ser responsáveis.

À Comunidade da UFCG, lembro que o país está mergulhado em uma crise econômica, política e moral, mas a UFCG não está. Embora seja evidente que aspectos econômicos interfiram na capacidade de investimento da Universidade, nosso trabalho pode continuar com essa realidade e uma agenda de melhorias é maior do que uma agenda de melhorias das condições dos equipamentos físicos.

Uma Universidade como essa demonstra a imensa capacidade transformadora da Universidade como vetor de desenvolvimento social, e demonstra também a emergência de demandas inteiramente novas de público, tanto com referência aos alunos como aos professores. Essa comunidade, da qual com orgulho faço parte apresenta também uma pressão por mudança, por adaptação das estruturas tradicionais de uma Universidade estabelecida em moldes muito tradicionais para um modelo organizacional e de recursos mais flexível e dinâmico.

Reconhecendo a qualidade estabelecida e consolidada da UFCG no período anterior a 2006, é necessário construir uma ligação entre essas duas estruturas de maneira a atingir o benefício mútuo. O rápido crescimento da UFCG nos últimos anos criou tensões, tensões de enorme potencial transformador.

Unir esses dois caminhos é muito mais do que a garantia de instalações físicas dos campi fora de sede, todos já com estruturas em muito superiores ao campus sede. É mais do que a garantia de capacitação e qualificação para os docentes. Esses foram os desafios que dependiam muito mais de forças exógenas à UFCG.

O desafio agora é a mobilização das ideias de uma Universidade que convirjam para o desvelar de um sonho de UFCG, um sonho que sonhamos juntos e que represente o engajamento de todos para as demandas de qualidade de ensino, equidade e justiça social em um ambiente democrático, valorizando as instâncias decisórias da UFCG.

Com o respeito ao passado e o olhar no futuro, com planejamento estratégico de longo prazo, com continuidade das ações institucionais e com a ajuda de todos, poderemos prosseguir honrando o trabalho que hoje é coroado por meio desses alunos tão queridos.

À vocês, pais, amigos e familiares, meu abraço caloroso, minhas saudações. Cumprimos nosso trabalho na educação formal desses moços e moças com a inestimável ajuda da ideia de educação que vocês construíram.

Uma boa noite a todos e muitas felicidades. 



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