Nossos anfitriões seguramente colocam os debatedores
em uma situação difícil. A importância das línguas para a Universidade só pode
ser apropriadamente discutida a medida em que definimos Universidade e também
Línguas. Duas tarefas bastante elusivas.
Para balizar meu pensamento procurei primeiro pensar
naquilo para o qual as nenhuma Língua e tampouco nenhuma Universidade deve ser
importante. Veio à mente um poema de Yeats. Na época em que Yeats escreveu a
Universidade de Dublin já tinha 337, 5 anos antes da fundação de nossa primeira
Universidade, 15 anos após a morte de Saussure. Uma época de grandes mudanças
tanto para as Universidades quanto para o estudo das Letras, na alegoria de
Yeats aprendemos alguma lição:
THE SCHOLARS (1929
ver.)
Bald heads, forgetful of their sins,
Old, learned, respectable bald heads
Edit and annotate the lines
That young men, tossing on their beds,
Rhymed out in love's despair
To flatter beauty's ignorant ear.
All shuffle there, all cough in ink;
All wear the carpet with their shoes;
All think what other people think;
All know the man their neighbour knows.
Lord, what would they say
Did their Catullus walk that way?
Bald heads, forgetful of their sins,
Old, learned, respectable bald heads
Edit and annotate the lines
That young men, tossing on their beds,
Rhymed out in love's despair
To flatter beauty's ignorant ear.
All shuffle there, all cough in ink;
All wear the carpet with their shoes;
All think what other people think;
All know the man their neighbour knows.
Lord, what would they say
Did their Catullus walk that way?
William Butler Yeats
(1865-1939)
É bem verdade que Universidades em todos os tempos
já consideraram a produção de Eruditos um fim em si mesmo, ainda as há.
Começamos assim a nossa história universitária com Theodoro Ramos, qual
Diógenes com a Lanterna, buscando sábios de Europa para a fundação da USP. Os
desafios que hoje enfrentamos são os desafios de uma Universidade sem essência,
sem ontologia. A Universidade hodierna é definida pelos seus usos e pelos seus
desafios, sempre em movimento, não por uma essência mítica que perpassa o seu
passado milenar.
Publicamos em diversas línguas, expressamos nosso
conhecimento, ou a falta dele, em 15 dialetos, mas titubeamos em escrever notas
de aula ou o que pensamos em nossa única língua oficial escrita. Somos uma
grande nação de analfabetos!
São palavras duras, contudo mais dura é a realidade.
Fracassamos em qualquer avaliação quanto ao entendimento de nossa própria
língua! Os principais desafios das nações do século XXI, muito particularmente das
Universidades, são a promoção da internacionalização – o que significa
conseguir se expressar de maneira verbal e escrita em mais de um idioma, com a
consequente flexibilização curricular a medida em que há o contato com novas
formas de organização curricular em Universidades de outras culturas; a
empregabilidade – o que significa formar o aluno para se expressar
adequadamente em sua própria língua além de deter os conhecimentos necessários;
a transformação da sociedade para padrões mais elevados de ética e de justiça – o que significa aguçar a
criticidade dos alunos e permitir o cotejamento de diferentes possibilidades
éticas e suas consequências para a tomada de decisões responsável; a inclusão –
o que significa aumentar expressivamente o número de matrículas no Ensino
Superior, consequentemente recebendo nos cursos de graduação alunos de todos os
extratos sociais e manifestando-se nos mais diversos níveis de domínio da
língua.
Vamos detalhar um pouco o papel dos cursos de
Línguas da UFCG. Uma breve caracterização se faz necessária. Temos 8 cursos
ativos e 8 cursos em processo de extinção, com um total de 631 alunos. São 185 vagas
ofertadas por ano e 178 formandos em dois períodos, representando uma relação
bastante boa com relação aos índices de evasão.
Nenhuma conclusão precipitada deve ser tomada. Vamos
continuar analisando os números, mas agora com um pano de fundo. Das matrículas
em Ensino Superior no Brasil, apenas 26% estão no setor público. Quando
consideramos o apenas o Nordeste esse número sobe para 39%, com o recorte no
nosso Estado temos 60%. A Paraíba é o único estado no Nordeste que tem mais
matrículas no setor público do que no privado e na comparação nacional a taxa
paraibana é 2 vezes maior. Isso sem dúvida deve repercutir em nós, a responsabilidade
de formação no Ensino Superior na Paraíba é muito grande e muito diferente do
resto do país.
Finalmente, podemos nos comparar com nossas irmãs,
Universidades Federais. Nessa comparação temos que a relação concluintes por
matrícula é de 11% na média Nacional e de 8% para a UFCG, mostrando que temos
uma evasão consideravelmente alta. Nesse quesito o curso de letras fica com
28%, confortavelmente acima da média nacional.
Outra análise possível é a relação de vagas de
ingresso por matrículas. A média nacional é de 29%, acompanhada pela média
Nordestina e na UFCG temos 33%. Os cursos de letras apresentam 29%. Finalmente
a relação de matrículas por docente tem uma média nacional de 11 matrículas por
docente, idêntica a média da UFCG e compatível com a média do Nordeste.
Mais um alarmante dado antes de começarmos a tirar
conclusões: apenas 5% das vagas de licenciatura no Brasil são do setor privado.
Se a importância das Línguas para a UFCG for medida
em concluintes, o que é possível fazer? É possível aumentar o número de vagas
no vestibular, tornando-o compatível com a média da UFCG. Deve-se ter
consciência de que esse aumento acarreta aumento da relação de alunos por
professor de maneira essencialmente linear para esses cursos, com demandas de
espaço, custos e número de concluintes. Uma estratégia que deve ser pensada com
cuidado mas nessa área certamente o resultado do aumento de vagas se traduz em
aumento de concluintes, o que não é verdade em muitos outros cursos.
Um conjunto de cursos de letras contudo,
principalmente na nossa região, tem como maior finalidade o trabalho conjunto
com a Educação Básica por meio de programas financiados por agências de fomento
ou pelo próprio Ministério da Educação. Praticamente todos os licenciados da
Paraíba saem do setor público, muitos já saíram e estão enfrentando
dificuldades com a situação real do Ensino. Existe muita coisa que podemos
fazer para esse diálogo se traduzir em melhoria da Educação Básica, melhoria
dos cursos de licenciatura e melhoria da qualidade dos ingressantes da UFCG. O
diálogo com os responsáveis pela Educação Básica nos níveis Estaduais e
Municipais devem ser perseguido ativamente, como vem fazendo o projeto PIBID,
por exemplo.
Os trabalhos de extensão podem se alicerçar em
iniciativas bem sucedidas, nesse sentido o PET tem uma importância fundamental
de mobilizar os alunos nessa direção. Precisamos de lideranças voltadas para o
trabalho com a educação básica.
Precisamos de estratégias agressivas para um programa
de línguas voltado aos nossos próprios alunos, para que possamos prepara-los
para os rumos da internacionalização, lembrando também que muitos professores
também precisam de auxílio nessa passagem.
São também os cursos de letras que oxigenam o ingresso
nos programas de pós-graduação, fazendo contato intrínseco com todos os
segmentos universitários. Esse contato deve ser intensificado e o planejamento
deve ser fundamental para que isso ocorra, garantindo-se infraestrutura e
orçamento.
Quando eventos assim são realizados, quando é
patente a mobilização de alunos e docentes para a discussão e principalmente
para o fazer, fica claro que a importância das Línguas para a Universidade é
simplesmente permitir a expressão do pensamento, livre como deve sê-lo, nesses
momentos esse pensamento pode ser ouvido.
Luciano Barosi
(Participação em mesa redonda da Jornada Nacional de Línguas organizada pelo PET LETRAS/UFCG em 24/Fevereiro/2014)
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