Esse texto pretende expor a
posição pessoal do autor com relação à adesão da UFCG à EBSERH. O contexto da
discussão compreende, principalmente, os eventos que ocorreram na reunião
cancelada do Colegiado Pleno no final de 2013, os textos publicados pelo
Magnífico Reitor da UFCG e pelo seu antecessor, postagens em redes sociais e
alguns artigos publicados no portal UFCG. O verdadeiro objetivo do texto é um
convite a razão e ao direito de livre pensamento.
O parágrafo acima tem 385
caracteres, mas acredito que ainda caiba na postagem de redes sociais antes do
“LEIA MAIS”. Dessa forma qualquer comentarista deverá certamente saber do que
se trata antes de comentar ou mesmo compartilhar. Precauções...
Se me perguntassem no final de
2012 a minha opinião sobre a EBSERH responderia que era favorável a adesão e que
considerava ser um ato administrativo ao qual o até então contundente, e até
mesmo um pouco voluntarioso, Reitor Thompson Mariz se furtara, encaminhando a
reunião para discussão no Colegiado Pleno em vez de simplesmente encaminhar sua
decisão ao MEC. Mais ainda, pessoalmente era favorável a ideia da empresa.
Responderia não, respondi, algumas vezes, com o texto mais ou menos igual ao
acima.
Também considerava um tema
politicamente preocupante e perigoso no ambiente acadêmico, onde sempre
vicejaram alguns frutos sectários de viés socializante. Dizia ainda que a
adesão era um dado da realidade que o próximo reitor teria que administrar,
aderindo por pressão governamental do MEC e do Ministério Público que cassariam
todas as ferramentas autônomas de gerenciamento do Hospital Universitário
enquanto teria que lidar com a insatisfação do setor mais sindicalizado.
Portanto eu tinha uma opinião e
uma análise política. Explicar o que embasava minha opinião acerca da EBSERH
seria um exercício um pouco tedioso de repetir os tantos argumentos
apresentados publicamente pelos Magníficos Reitores Edilson e Thompson, além do
relato do Prof. Márcio Caniello. De qualquer forma elenco resumidamente o que
considero mais fundamental:
·
- Sempre houve problemas com o financiamento de Hospitais Universitários no próprio Governo Federal. Uma verba meio sem dono que contava as vezes como MEC, as vezes como Ministério da Saúde;
- · A gestão centralizada de todos os Hospitais Universitários por uma direção da Secretaria de Educação Superior do MEC, no mínimo, contraria o bom senso!
- · O Modelo de Gestão proposto é uniformizado e padronizado, garantindo maior controle de qualidade;
- · O sistema proposto é mais facilmente escalável e integrado, permitindo investimentos diretos nos HUs, com consequente melhoria do atendimento à população;
- · A Integração com a Universidade é ainda maior do que no modelo atual, criando uma direção específica de Ensino, permitindo um melhor acesso dos cursos das áreas de Saúde, não apenas em residências mas também no internato e nas aulas práticas;
- · O regime de trabalho CLT não representa perda para nenhuma categoria, a empresa é pública e os processos de admissão e de demissão devem ocorrer, um por processo seletivo público e outro por processo administrativo. Será que é necessário lembrar que o regime CLT é uma CONQUISTA da classe trabalhadora, incorporando um grande número de benefícios? 13º, FGTS, férias remuneradas, aviso-prévio, licença maternidade, paternidade e por ai vai.
- · A natureza de grande parte das atividades dos hospitais universitários é a prestação de serviço, é razoável supor que esses serviços não possam parar e devem ser o mais eficientes possível. Também é um fato notório a grande mobilidade dos prestadores de serviço na área de saúde, sendo necessário agilidade para contratações e reposições de servidores, tarefa em que a Universidade é orgulhosamente incompetente.
Mesmo que o leitor concorde com os argumentos
acima, acredito que posso acrescentar uma outra vertente de pensamento no que
segue. Acontece que mudei bastante a minha ideia. Reconheço que estava errado
em alguns aspectos, refleti e me reconciliei com os fatos.
Por que escrevo, agora, sobre a
EBSERH? Escrevo minha opinião pessoal, mas também é um fato que sou Pró-Reitor
de Ensino e me vi forçado, logo no início de minha gestão, em Maio, a me
pronunciar publicamente sobre o Hospital Universitário, em momento de crise, no
JPB 1ª Edição. Na ocasião enfrentávamos manifestação de estudantes que
reclamavam problemas com a falta de docentes e durante a entrevista foi exibido
um trecho de uma matéria sobre o Hospital Universitário que estava com
problemas de atendimento onde também havia manifestações.
Naquele momento não devia
representar minha opinião pessoal, tinha que representar minha opinião institucional.
Como mensagem geral acredito que acertei no encaminhamento do discurso,
acredito que estava alinhado ao pensamento institucional mas lamentavelmente
acabei dando informações equivocadas a respeito de alguns números de
atendimentos. Em linhas gerais eu apontava o problema da queda do número de
atendimentos no Hospital, um fato, mas no calor da câmera acabei errando um dos
números e disso que o HUAC atendeu 80 mil pessoas por mês. Mea Culpa! Não tive
oportunidade de me corrigir e me desculpar publicamente, aqui o faço.
Tudo bem esclarecido, é hora do
texto mudar e começar a discutir nuances mais sutis do pensamento. A leitura
atenta diz que tenho duas opiniões, alguns membros de nossa comunidade
acadêmica ficaram chocados que o Reitor pudesse simplesmente mudar de opinião e
eu digo logo que tenho duas, deve ser um tremendo escândalo. Eu não saberia
explicar para esses cavalheiros como isso é possível. De toda sorte, nesse
texto quero ater-me apenas a minha opinião pessoal (ressalvado o parêntese feito
acima) e dirijo-me tão somente as pessoas que atravessaram meu oceano
linguístico de 900 palavras.
O Reitor foi eleito pela comunidade acadêmica
para representá-la, delegou a mim seus poderes concernentes aos aspectos de
graduação, embora ainda tenha alguns deles e possa avocar outros. Também pode,
obviamente, mudar de ideia e dispensar-me dessas funções a qualquer tempo, em
suma, estou em um cargo de confiança do Reitor. Para que fique claro, isso
significa que o Reitor confia em seus cargos de confiança, não significa alguém
em um cargo de confiança confiar no Reitor... isso não é necessário para a
função. A confiança mútua está necessariamente presente em amizade, casamento
ou contrato de trabalho, mas não para cargos em confiança.
Pessoalmente sempre desconfio de
todo mundo que confia em mim, não obstinadamente, mas com cautela. Algumas
pessoas podem estar já com o dedo em riste acusando-me de ser parcial nessa
matéria ou até pelego. Assim já me denunciei logo para que o leitor não perca
tempo querendo saber se tenho interesses ocultos. Acontece que não vendi minha
alma para forças ocultas, não vi caminhar nenhum lobo na névoa a se
materializar em Mefistólefes para qualquer tipo de pacto, não recebo mimos
fantásticos de uma cornucópia, simplesmente faço parte de uma equipe que tem um
chefe, mantenho minha opinião, tenho direito a discordar das opiniões de quem
quer que seja e de proferir as minhas. Santo Deus, tenho até o direito de
concordar, sempre com respeito.
Logo no início desse texto eu
afirmei que havia mudado de ideia. Aqui está, acertou o então Reitor Thompson
ao levar o assunto ao Colegiado Pleno. A comunidade acadêmica tem que se
responsabilizar por uma decisão dessa magnitude. Aposto que foi para ele uma
surpresa a reação como foi, a hostilidade e os gritos fazendo com que se
toldasse a razão, entendo claramente que os conselheiros se sentiram acuados
por palavras de ordem e se intimidaram. Conversei com muitos deles, não acho
que todos tenham coragem de dizer assim, mas asseguro que devem fazê-lo. Alguns
estarão prontos para acusar: “se não estivesse de acordo, não votasse!”, “quem
não estava esclarecido não deveria votar”, pois tenham todos a certeza de quem
fala e acusa dessa forma é apenas o opressor, aquele que quer calar a voz da
comunidade acadêmica. A voz não se impõe pela força, senão pela razão.
Não me lembro de ouvir o reitor
Edilson ser categórico em qualquer recusa à EBSERH. Lembro de manifestações
recalcitrantes, talvez acreditasse ainda em uma via política junto ao MEC para
evitar ou ao menos postergar à adesão. Em vez de lutar contra os fatos, mudou
de ideia, o que para mim distingue um sábio de um tolo. Acompanhei discussões
sobre esse assunto ao longo do ano todo, ano em que surgia, mais e mais
argumentos favoráveis. Sou testemunha do que chamam de mudança de opinião, o
que chamo de um contínuo autoconvencimento baseado no estudo da realidade e dos
documentos, com o consequente afinamento do discurso e com o aparecimento de
melhores imagens e argumentos no discurso.
Chamo isso de amadurecer uma ideia e considero isso uma nobreza do
indivíduo, não um defeito. Já mudei de ideia tantas vezes, simplesmente porque
a ideia que defendia outrora se manifestara errada!
Estive presente na última,
famigerada reunião que não houve do Colegiado Pleno. Todos sabiam que haveria
problemas mas não havia nenhum plano. Alguns poucos auto-entitulados
representantes da Comunidade Acadêmica invadiram um recinto pequeno batendo
latas e berrando palavras de ordem. Sou testemunha de como nenhum conselheiro
teve direito de se manifestar, sou testemunha de que a batucada só parava para
permitir a voz incisiva de um membro daquele grupo que, audaciosamente, queria
impor ordens ao Reitor da Universidade. Em alguns textos por aí dizia-se que
esse personagem era “alguns conselheiros”. Não era conselheiro nenhum. Houve
uma tentativa de suspender a reunião para que talvez se negociasse a paz e vi o
reitor ser atacado – é essa a palavra mesma – por membros do bando que o
cercaram com gritos e o impediram de sair. Os conselheiros estavam todos
atônitos. O Reitor estava atônito, aflito até, pelo que pude perceber, e mudou
de ideia (parece que essa mudança ninguém acusou!) e cancelou a reunião.
Seguramente a reunião foi cancelada porque o Reitor precisava sair daquela baderna
ileso.
Não havia plano orquestrado,
havia apenas o desejo de ouvir a comunidade acadêmica sobre uma matéria. A voz
da comunidade acadêmica teve que se calar por membros que não faziam parte
dela, por um grupo que não a representava legitimamente, pela intimidação. Se é
verdade que os fins não justificam os meios, também talvez por meios errados os
fins podem ter razão, mas é um seguro mau começo.
Para não falar da chorumela do
“apagar das luzes”. A administração não pode parar, Dezembro é um mês como
todos os outros, não é fim de mandato, era uma reunião agendada e esperada.
Acompanhei reunião posterior em
que vi a prostração em que se encontrava o Reitor, abalado com o ocorrido. A
única estratégia que foi unânime envolveu a necessidade de implementar o que
toda a comunidade indicava julgar correto a fazer e, principalmente, desacorrentar
a universidade de uma pauta única. A EBSERH, como fato dado desde o início do
mandato não é uma decisão importante é apenas um daqueles projetos que
enfrentam uma oposição maciça de alguns setores que a valorizam apenas a medida
em que ocupa o resto da pauta relevante da Universidade. É possível, mas muito
difícil que a estratégia de sequestradores e sabotadores esteja mobilizada para
a democracia!
Se um movimento considera uma
conquista o cancelamento de uma reunião onde haveria a discussão democrática e
representativa sobre uma matéria, qual a conclusão que podemos chegar? Não é
claro que esse é um movimento contrário a discussão e mais ainda, um movimento
que acha que perderia essa discussão? Não é óbvio que esse movimento quer
enfiar goela abaixo da comunidade acadêmica a sua opinião própria?
Secretamente houve um certo
alívio para mim. Eu não sou muito hábil no trato político e sou intolerante com
o cerceamento de espaços de discussão e, pouco tempo antes dessa reunião havia
cancelado uma reunião da Câmara Superior de Ensino por esses motivos em matéria
ordens de grandeza menos polêmica. Não estava mais sozinho. Também aprendi até
onde as coisas podem escalar e descobri que talvez tenha sido excessivo nos
meus atos. Xi... mais uma vez em que mudo de ideia!
O que aconteceu depois? Uma
campanha de artigos venenosos cobravam do reitor seu passado político como
dirigente sindical e ataques pessoais de toda a sorte. Mas o que eu vi foi um
movimento articulado do reitor honrando exatamente seu passado sindical.
Acostumado com situações em que as vias do diálogo são bloqueadas por forças
sectárias de uma ou outra vertente, o Reitor foi extremamente hábil para
reinstalar o diálogo na Comunidade Acadêmica e o debate sobre o assunto, com
seus textos e reuniões a granel. Precisa conhecer muito da política e da
Democracia para conseguir defende-la, sem autoritarismo, e restabelecer o
diálogo com os canais de representatividade legítimos para a discussão. Entendo
bem porque está tão alta a gritaria contra esses movimentos.
Estou terminando. Embora eu tenha
mudado tantas vezes de ideia, não sou reitor e não vejo problemas com isso. Não
vejo problemas que o Reitor como indivíduo e como titular do cargo o faça,
baseado nos dados concretos da realidade, embora não me lembre de ouvir
posicionamento claro em contrário à EBSERH.
Finalmente, uma campanha
publicitária com tantas mentiras dificilmente pode estar ao ado da verdade.
Nenhum conselheiro se manifestou, foram os desordeiros que o fizeram. Quando o
Ex-Reitor Thompson se manifestou sobre fatos teve uma resposta que se travestia
de acadêmica e usou tantos recursos pueris de discurso que também fica difícil
de crer, além das incongruências factuais que já conheço.
Atacar um discurso de fatos pela
forma é simplesmente uma tentativa de desqualificar o oponente, um recurso ad
hominem, recorrer a wikipedia para uma longa exposição técnica e desnecessária
é mau estilo, mas também uma forma retórica conhecida, non sequitour. Citar
fontes fora do texto de maneira errônea, chama erro mesmo. Em suma, existe um
debate acadêmico posto, pelo Magnífico Reitor da UFCG, em resposta a esse
discurso ainda não apareceu nada que não fosse contra o discurso, com todos os
truques existentes para se toldar a democracia com a ausência de argumentos.
Quem continua com a mesma ideia,
não mudou de ideia como dizem que o Reitor fez, que manifeste as suas ideias
sem ataques ou permita que a comunidade acadêmica decida.
Fica aqui uma proposta aberta ao
Reitor. Que a próxima reunião do Colegiado pleno seja feita no Auditório do
Centro de Extensão José Farias da Nóbrega, com um cordão de isolamento para os
conselheiros e que se permita a entrada do público em geral, manifestantes ou
não. Dessa forma acredito que seja possível que todos sejam ouvidos e que
finalmente consigamos debater e deliberar. Nesse momento me dirijo também
aqueles contrários a adesão da EBSERH que se manifestem dentro dos limites do
respeito que o ambiente acadêmico merece.
Luciano Barosi
João Pessoa, 12 de Fevereiro de 2014
Link para a
Entrevista Citada:
http://g1.globo.com/pb/paraiba/jpb-1edicao/videos/t/campina-grande/v/hu-alcides-carneiro-em-cg-enfrenta-dificuldades-para-atender-pacientes/2601157/
Nenhum comentário:
Postar um comentário