quarta-feira, 19 de março de 2014

Ouça um Bom Conselho

O Colegiado Pleno da Universidade Federal de Campina Grande, em 18 de Março de 2014, finalmente se fez ouvir! São muitos os objetivos desse texto, portanto o seu principal já vai estampado na abertura: Congratulação à Comunidade Acadêmico que se fez ouvir!

Parece absurdo congratular uma instância colegiada da Universidade simplesmente por se manifestar, a final de contas já temos 30 anos de redemocratização. Mas esse é um absurdo aparente apenas para o observador incauto.

Já no final de 2012 esse Colegiado Pleno, instância máxima da instituição, reunia-se para debater quanto a adesão ou não da UFCG a EBSERH. Explicação sobre o assunto podem ser encontradas em outros textos, não desejo aqui discutir o mérito da questão.


Em uma reunião muito tumultuada, precipitada porquanto não houvesse total clareza sobre as implicações e possibilidades relacionados à matéria, houve a instalação do cerceamento de expressão dos conselheiros por apitaços, megafones, bater de latas, gritos de ordem (não seria isso um oximoro!) coordenados por um grupo restrito de pessoas ligadas aos sindicatos de categorias Universitárias de forte ligação ideológica e partidária que conseguiram cooptar e se infiltrar em parte da representação estudantil para que todos, repito, coordenadamente, aplicassem táticas de mobilização em confronto e manifestações. Invadido um auditório de pequenas proporções com um grupo de pessoas incitando a baderna, coibindo o direito a expressão dos conselheiros e com os discernimentos sobre a matéria ainda titubeantes os manifestantes lograram um êxito, havendo a votação do processo em questão com a vitória do ponto de vista tão sábia e racionalmente apresentado pelos manifestantes enquanto batiam suas latas e gritavam.

Contudo, essa votação feita a fórceps teria consequências que se revelariam cada vez mais sérias com o passar do tempo. Seus desdobramentos foram-se revelando de forma a colocar em risco o funcionamento dos Hospitais Universitários, os cursos de Medicina, a Rede SUS da Paraíba, o aparelhamento hospitalar do Estado e o pagamento de salários mediante uma decisão judicial que já se antevia pouco tempo depois da votação. Nesse interim também a comunidade acadêmica, representada por seus conselheiros, ganhava mais informações sobre a questão e criou-se um sentimento coletivo importante com respeito a necessidade da Administração rever os seus atos anterior utilizando do seu direito de autotutela.

Tão logo essa questão é colocada publicamente pela administração para o processo de revisão da decisão na sua máxima instância colegiada aparece o mesmo grupo, defendendo a democracia e o interesse público enquanto obsta o avanço da discussão. Todas as ferramentas possíveis foram utilizadas para que se procrastinasse a decisão.

Em duas reuniões houve a tentativa de rediscussão apresentada pela reitoria e por duas vezes o clima de tensão instaurado, o confronto verbal e iminentemente físico demonstrava a escalada de uma reação para a qual todos conhecem o destino.

Mais uma reunião, extraordinária, pactuada com o grupo radical, com a apresentação de 27 assinaturas de conselheiros desejando a rediscussão da matéria e solicitando providências, amplo arcabouço legal apresentado previamente a todos os conselheiros. Pronto... é a essa reunião que me refiro nesse texto.

Parêntesis personalíssimo. Minha natureza cordata e reservada vem acompanhada de alguns defeitos, contudo preciso salientar uma qualidade que considero peculiar: eu sou tolerante! Muita gente acha que é tolerante ou diz de peito cheio, essa é uma característica bastante difícil de se exercer, exige treino e educação, mas, principalmente, exige confronto com o outro. Enquanto estamos em uma redoma de concordância não exercemos a tolerância, tolerar é tolerar o outro, o divergente, até mesmo o errado. Não é coonestar, assentir, concordar, apenas aceitar o direito de existência ao outro. Como já afirmei que considero uma virtude complexa não imagino que muitos a possuam. Particularmente alguns personagens dessa lamentável narrativa demonstram o total desconhecimento de seu significado, de toda sorte, tolero a sua existência e seus erros.

Voltemos a reunião. Realizada no Auditório do Centro de Extensão com capacidade para 180 pessoas, estava com a casa cheia, quarenta e tantos conselheiros, alguma plateia e aquele mesmo grupo com latas de um lado, aquele mesmo grupo que os incita de outro. Em um auditório maior do que o usual, com microfones, era possível que as pessoas se ouvissem – desde que a batucada o permitisse. De qualquer forma, não se podia ali negar que era um evento democrática, com tudo que tem direito.

Democracia é uma coisa engraçada, muito ligada com a tolerância! Para mim, a Democracia está ali no livro de Tocqueville, mas acho que agora as pessoas dizem que esse é um livro de direita reacionária! Vamos analisar alguns aspectos dessa em breve.

Agora devo ressaltar que havia um outro tipo de processo, digamos, democrático acontecendo. Para que se demonstrasse a completa isonomia de condições entre os homens poderíamos considerar uma característica humana, por exemplo, a mentira! Facilmente distinguíamos mentirosos convictos de todas as idades (uma boa notícia para os mentirosos jovens... não aparenta causar nenhuma sequela quanto a saúde corporal), também os havia de todos os tamanhos. Parece que na aeronáutica tem uma altura limite para o alistamento, para a mentira, não se preocupe, pode se alistar sem problemas, afinal ali havia generais de carreira nessa arte. Muitas outras categorias estavam ali representadas...

Foi com um pouco de surpresa que eu vi a existência de um mestre de cerimônias que ia narrando e acontecendo o que acontecia na reunião. Acho que estava querendo auxiliar as pessoas mais no fundo da sala, acredito que fingia não estar entendendo para que a discussão ficasse bem clara para os conselheiros. Até apreciei a ideia, esqueci de perguntar ao Reitor se ele havia solicitado esse serviço. Lamento apenas uma ocasião em que o moço esqueceu de levar o microfone para uma conselheira e eu tive que lembra-lo disso.

Lembrei agora, tenho certeza de que não foi o Reitor. Nesse momento em que pedi pra levar o microfone o rapaz estava indo bastante solícito mas eu houve uma voz baixa bem brava mandando que ele não fosse. Não entendi bem, mas imaginei que fosse o chefe dele, daí não decidi prejudica-lo.
Nesse momento já haviam votado duas vezes pela rediscussão do assunto. Os conselheiros se manifestaram de maneira clara, aguentaram todas as provocações, aguentaram a chateação de ali estarem daquela forma constrangidos pela terceira vez. Falaram pouco, considerando a segurança deles mesmos, as ameaças gritadas por hostes de democratas.

Naquele momento a reunião teve que ser cancelada, a democracia com a lata na mão não gostou do resultado pela rediscussão e queria evitar a discussão acerca da adesão, mais uma vez.

O texto vai ficando grande e ainda tenho muito a falar sobre o segundo momento do dia. Para que façamos um gancho com a situação continuo só mais um pouco.

Pelo que foi exposto não há dúvida de onde se aplicam, por enquanto as questões de democracia e tolerância. Ali uma decisão representativa manifestada corajosamente foi a festa democrática.

Ops, democracia tem umas coisinhas a mais, existem descontentes sempre. Democracia é um sistema que prevê recursos para a sua própria preservação, recursos que defendam o povo do próprio povo. Até breve na próxima narrativa.

Luciano Barosi de Lemos

Campina Grande 19/Mar/2014

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