O
Colegiado Pleno da Universidade Federal de Campina Grande, em 18 de Março de
2014, finalmente se fez ouvir! São muitos os objetivos desse texto, portanto o
seu principal já vai estampado na abertura: Congratulação à Comunidade
Acadêmico que se fez ouvir!
Parece
absurdo congratular uma instância colegiada da Universidade simplesmente por se
manifestar, a final de contas já temos 30 anos de redemocratização. Mas esse é um
absurdo aparente apenas para o observador incauto.
Já
no final de 2012 esse Colegiado Pleno, instância máxima da instituição, reunia-se
para debater quanto a adesão ou não da UFCG a EBSERH. Explicação sobre o
assunto podem ser encontradas em outros textos, não desejo aqui discutir o mérito
da questão.
Em
uma reunião muito tumultuada, precipitada porquanto não houvesse total clareza
sobre as implicações e possibilidades relacionados à matéria, houve a
instalação do cerceamento de expressão dos conselheiros por apitaços,
megafones, bater de latas, gritos de ordem (não seria isso um oximoro!)
coordenados por um grupo restrito de pessoas ligadas aos sindicatos de
categorias Universitárias de forte ligação ideológica e partidária que
conseguiram cooptar e se infiltrar em parte da representação estudantil para
que todos, repito, coordenadamente, aplicassem táticas de mobilização em
confronto e manifestações. Invadido um auditório de pequenas proporções com um
grupo de pessoas incitando a baderna, coibindo o direito a expressão dos conselheiros
e com os discernimentos sobre a matéria ainda titubeantes os manifestantes
lograram um êxito, havendo a votação do processo em questão com a vitória do
ponto de vista tão sábia e racionalmente apresentado pelos manifestantes
enquanto batiam suas latas e gritavam.
Contudo,
essa votação feita a fórceps teria consequências que se revelariam cada vez
mais sérias com o passar do tempo. Seus desdobramentos foram-se revelando de
forma a colocar em risco o funcionamento dos Hospitais Universitários, os
cursos de Medicina, a Rede SUS da Paraíba, o aparelhamento hospitalar do Estado
e o pagamento de salários mediante uma decisão judicial que já se antevia pouco
tempo depois da votação. Nesse interim também a comunidade acadêmica,
representada por seus conselheiros, ganhava mais informações sobre a questão e
criou-se um sentimento coletivo importante com respeito a necessidade da
Administração rever os seus atos anterior utilizando do seu direito de
autotutela.
Tão
logo essa questão é colocada publicamente pela administração para o processo de
revisão da decisão na sua máxima instância colegiada aparece o mesmo grupo,
defendendo a democracia e o interesse público enquanto obsta o avanço da
discussão. Todas as ferramentas possíveis foram utilizadas para que se
procrastinasse a decisão.
Em
duas reuniões houve a tentativa de rediscussão apresentada pela reitoria e por
duas vezes o clima de tensão instaurado, o confronto verbal e iminentemente
físico demonstrava a escalada de uma reação para a qual todos conhecem o
destino.
Mais
uma reunião, extraordinária, pactuada com o grupo radical, com a apresentação
de 27 assinaturas de conselheiros desejando a rediscussão da matéria e
solicitando providências, amplo arcabouço legal apresentado previamente a todos
os conselheiros. Pronto... é a essa reunião que me refiro nesse texto.
Parêntesis
personalíssimo. Minha natureza cordata e reservada vem acompanhada de alguns
defeitos, contudo preciso salientar uma qualidade que considero peculiar: eu
sou tolerante! Muita gente acha que é tolerante ou diz de peito cheio, essa é
uma característica bastante difícil de se exercer, exige treino e educação,
mas, principalmente, exige confronto com o outro. Enquanto estamos em uma
redoma de concordância não exercemos a tolerância, tolerar é tolerar o outro, o
divergente, até mesmo o errado. Não é coonestar, assentir, concordar, apenas
aceitar o direito de existência ao outro. Como já afirmei que considero uma
virtude complexa não imagino que muitos a possuam. Particularmente alguns
personagens dessa lamentável narrativa demonstram o total desconhecimento de
seu significado, de toda sorte, tolero a sua existência e seus erros.
Voltemos
a reunião. Realizada no Auditório do Centro de Extensão com capacidade para 180
pessoas, estava com a casa cheia, quarenta e tantos conselheiros, alguma plateia
e aquele mesmo grupo com latas de um lado, aquele mesmo grupo que os incita de
outro. Em um auditório maior do que o usual, com microfones, era possível que
as pessoas se ouvissem – desde que a batucada o permitisse. De qualquer forma,
não se podia ali negar que era um evento democrática, com tudo que tem direito.
Democracia
é uma coisa engraçada, muito ligada com a tolerância! Para mim, a Democracia
está ali no livro de Tocqueville, mas acho que agora as pessoas dizem que esse
é um livro de direita reacionária! Vamos analisar alguns aspectos dessa em
breve.
Agora
devo ressaltar que havia um outro tipo de processo, digamos, democrático
acontecendo. Para que se demonstrasse a completa isonomia de condições entre os
homens poderíamos considerar uma característica humana, por exemplo, a mentira!
Facilmente distinguíamos mentirosos convictos de todas as idades (uma boa notícia
para os mentirosos jovens... não aparenta causar nenhuma sequela quanto a saúde
corporal), também os havia de todos os tamanhos. Parece que na aeronáutica tem
uma altura limite para o alistamento, para a mentira, não se preocupe, pode se
alistar sem problemas, afinal ali havia generais de carreira nessa arte. Muitas
outras categorias estavam ali representadas...
Foi
com um pouco de surpresa que eu vi a existência de um mestre de cerimônias que
ia narrando e acontecendo o que acontecia na reunião. Acho que estava querendo
auxiliar as pessoas mais no fundo da sala, acredito que fingia não estar
entendendo para que a discussão ficasse bem clara para os conselheiros. Até
apreciei a ideia, esqueci de perguntar ao Reitor se ele havia solicitado esse
serviço. Lamento apenas uma ocasião em que o moço esqueceu de levar o microfone
para uma conselheira e eu tive que lembra-lo disso.
Lembrei
agora, tenho certeza de que não foi o Reitor. Nesse momento em que pedi pra
levar o microfone o rapaz estava indo bastante solícito mas eu houve uma voz baixa
bem brava mandando que ele não fosse. Não entendi bem, mas imaginei que fosse o
chefe dele, daí não decidi prejudica-lo.
Nesse
momento já haviam votado duas vezes pela rediscussão do assunto. Os
conselheiros se manifestaram de maneira clara, aguentaram todas as provocações,
aguentaram a chateação de ali estarem daquela forma constrangidos pela terceira
vez. Falaram pouco, considerando a segurança deles mesmos, as ameaças gritadas
por hostes de democratas.
Naquele
momento a reunião teve que ser cancelada, a democracia com a lata na mão não
gostou do resultado pela rediscussão e queria evitar a discussão acerca da
adesão, mais uma vez.
O
texto vai ficando grande e ainda tenho muito a falar sobre o segundo momento do
dia. Para que façamos um gancho com a situação continuo só mais um pouco.
Pelo
que foi exposto não há dúvida de onde se aplicam, por enquanto as questões de
democracia e tolerância. Ali uma decisão representativa manifestada
corajosamente foi a festa democrática.
Ops,
democracia tem umas coisinhas a mais, existem descontentes sempre. Democracia é
um sistema que prevê recursos para a sua própria preservação, recursos que defendam
o povo do próprio povo. Até breve na próxima narrativa.
Luciano
Barosi de Lemos
Campina
Grande 19/Mar/2014
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