Orestes
Foi um dia de
domingo em que matei a minha mãe.
Fora convencido do
que a razão dizia,
Serena e tranquila,
Arguia
Sobre as
conspirações, males, ardis e restrições...
A fonte primeva do
infortúnio se delineava clara como o Sol,
(que à razão
pertence)
Falava
de um futuro, de conquistas, da ambição, realizações...
E
como rastilho num paiol
Tais
idéias me incendiaram e eu, nesse átimo, tornei-me também
Um
pouco de Sol!
Faltou-me apenas
escolher o dia,
Por certo seria no
dia da razão se o houvesse!
Celebramos um dia
para guerra e para o amor,
Mas à razão na
semana é fugidia.
Sábado não pode,
como dizem os mandamentos
E me restou o
momento em que o pai descansou
Para realizar tão
arrazoado intento.
Nem tudo me falara a
razão.
Nada sobre as
consequências,
Sobre alecto,
Megaira e Tisífone...
Nada sobre as
Fúrias.
Fruto da castração
do pai, incessantes, encolerizadas, violentas
Corroiam cada
instante de mim. Incansáveis!
E como alcançar a
razão, que partiu?
Procuro em vão o
corvo, a serpente e agonizo...
Corvo? Serpente?
Numa sombra de
juízo, de repente
Compreendo os
símbolos desse agouro, desse fato
Que em mim recai...
Mas é tarde!
Consolo-me em
caminhar no tártaro
Mas vem em minha
salvação aquela que não tem mãe,
Que dizem justa,
ciumenta, guerreira infalível
Não quer mais do que
ser uma mãe,
Amargurada e
invejosa, tampouco tem dia na semana...
E me absolve.
Absolve, mas não me
salva.
Sigo e sinto os
olhos recaírem sobre mim,
Absolvição com uma
ressalva
Marca escarlate,
obscena, carmim
Do delito
impensável, da dor inumana...
Finalmente entendo a
semana
Sexta-feira é dia do
amor!
Assim que se termina
o dia percebo
Que quero esse amor
E também quero a
minha mãe.