segunda-feira, 24 de setembro de 2012


Orestes


Foi um dia de domingo em que matei a minha mãe.
Fora convencido do que a razão dizia,
Serena e tranquila,
Arguia
Sobre as conspirações, males, ardis e restrições...
A fonte primeva do infortúnio se delineava clara como o Sol,
(que à razão pertence)
Falava de um futuro, de conquistas, da ambição, realizações...
E como rastilho num paiol
Tais idéias me incendiaram e eu, nesse átimo, tornei-me também
Um pouco de Sol!

Faltou-me apenas escolher o dia,
Por certo seria no dia da razão se o houvesse!
Celebramos um dia para guerra e para o amor,
Mas à razão na semana é fugidia.

Sábado não pode, como dizem os mandamentos
E me restou o momento em que o pai descansou
Para realizar tão arrazoado intento.

Nem tudo me falara a razão.
Nada sobre as consequências,
Sobre alecto, Megaira e Tisífone...
Nada sobre as Fúrias.

Fruto da castração do pai, incessantes, encolerizadas, violentas
Corroiam cada instante de mim. Incansáveis!
E como alcançar a razão, que partiu?
Procuro em vão o corvo, a serpente e agonizo...

Corvo? Serpente?
Numa sombra de juízo, de repente
Compreendo os símbolos desse agouro, desse fato
Que em mim recai...
Mas é tarde!

Consolo-me em caminhar no tártaro
Mas vem em minha salvação aquela que não tem mãe,
Que dizem justa, ciumenta, guerreira  infalível
Não quer mais do que ser uma mãe,
Amargurada e invejosa, tampouco tem dia na semana...
E me absolve.

Absolve, mas não me salva.
Sigo e sinto os olhos recaírem sobre mim,
Absolvição com uma ressalva
Marca escarlate, obscena, carmim

Do delito impensável, da dor inumana...
Finalmente entendo a semana
Sexta-feira é dia do amor!
Assim que se termina o dia percebo
Que quero esse amor
E também quero a minha mãe.

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